Doenças sexualmente transmissíveis: o que você precisa saber

Por Manuela Sampaio

Pílula anticoncepcional, DIU, vacina contra HPV, tratamentos que prolongam (e melhoram) a vida de pacientes de Aids… Todos esses avanços devem ser aplaudidos de pé, mas, por trás deles, esconde-se um questionamento: será que nos acomodamos com o que a medicina tem a oferecer e deixamos de usar a básica – e fundamental – camisinha?

Aqui no Brasil, quase 2 milhões de pessoas são infectadas com clamídia e outras 640 mil adquirem herpes genital a cada ano. Só em 2015, o HIV fez 32 mil novas vítimas e, entre 2014 e 2015, houve um aumento de 32% nos casos de sífilis transmitida pelo sexo. E a lista de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) vai, ainda, muito além. Descubra as principais e como tratá-las.

Clamídia

Considerada a DST mais prevalente no mundo, estima-se que 5 a 10% da população mundial esteja contaminada pela bactéria Chlamydia Trachomatis.

Forma de transmissão: Sexo oral, anal ou vaginal desprotegido ou da mãe para o filho durante o parto.

Sintomas: Apenas 10% das pessoas terão sintomas, que podem variar de um simples corrimento incomum (com odor desagradável, coloração escura ou textura não usual) a quadros inflamatórios pélvicos intensos nas mulheres ou secreção uretral no homem.

Tratamento: Feito com antibióticos.

Linfogranuloma

Subtipo da Clamídia, o linfogranuloma é causado pelos sorotipos L1, L2 ou L3 da Chlamydia trachomatis e sua principal característica é a infecção dos gânglios da região da virilha.

Sintomas: A infecção começa com uma pequena ferida genital, que melhora espontaneamente. Depois de um período de 2 a 6 semanas, ocorre um aumento dos gânglios da virilha, com formação de pus.

Formas de transmissão: Sexo oral, anal ou vaginal desprotegido ou da mãe para o filho durante o parto.

Tratamento: Feito com antibióticos.

Herpes

Infecção viral normalmente causada pelo Herpes Simplex tipo II, mas pode também ser ocasionada pelo tipo I, que está mais ligado às infecções bucais.

Sintomas: Até 80% das pessoas com o vírus podem não ter sintomas e, mesmo assim, transmitirem a doença. O principal indício é o aparecimento de bolhas que se rompem e formam feridas doloridas na pele e mucosa da região genital e perianal. Esse processo pode ser acompanhado de febre, dor no corpo e nas articulações.

Formas de transmissão: Da mãe para o bebê durante o parto e, principalmente, pela relação sexual vaginal, oral ou anal durante a fase ativa da doença, quando há lesões visíveis (a transmissão ainda pode ocorrer na fase inativa, mas é raro). Dependendo do local das feridas, o preservativo pode não ser tão efetivo na prevenção. Depois de adquirido, o vírus nunca mais será eliminado e poderá gerar as bolhas e feridas a qualquer momento, principalmente quando houver queda da imunidade.

Tratamento: Com medicamentos antivirais, que podem ser usados durante a fase aguda, quando os sintomas aparecem, ou de forma contínua em baixa dose, para controlar a recorrência e diminuir o risco de contaminação do parceiro.

Cancro mole

Essa DST, causada pela bactéria Haemophilus Ducreyi, é autocontaminante, ou seja, uma primeira lesão pode causar outras e, com isso, retardar a recuperação e o tratamento.

Sintomas: Feridas dolorosas, de bordas irregulares e avermelhadas na região genital, normalmente na ponta do pênis e na parte interna dos grandes lábios. Há secreção purulenta e odor forte. Se transmitida pelo sexo oral, causa lesões na boca, língua ou orofaringe.

Formas de transmissão: Pela relação sexual desprotegida, seja oral, anal ou vaginal.

Tratamento: O tratamento é feito com antibióticos específicos para essa infecção. Quando mais cedo for iniciado, mais rápida é a recuperação.

Gonorreia

Causada pela bactéria Neisseria Gonorrhoeae, que pode acometer uretra, colo uterino, tubas, pelve na mulher ou uretra no homem.

Sintomas: O quadro varia de ausência total de sintomas a sintomas associados ao local infectado, como corrimento genital ou uretral e dor pélvica, por exemplo, podendo vir acompanhado de febre. Algumas das possíveis complicações são artrite e infecção de outros órgãos.

Formas de transmissão: A principal forma de transmissão é o sexo vaginal, oral ou anal desprotegido, mas também pode ser passado de mãe para filho no canal de parto.

Tratamento: Feito com antibióticos.

Sífilis

Infecção transmitida sexualmente pela bactéria Treponema Pallidum.

Sintomas: Pode ser assintomática ou ter manifestações como úlcera genital, lesões de pele, queda de pelos, além de acometimentos neurológicos e cardíacos quando em estágios avançados.

Formas de transmissão: Através de sexo (vaginal, oral ou anal) ou pela placenta da mãe para o feto, causando a sífilis congênita, que pode resultar em lesões auditivas, oculares, deformidades cranianas e outros acometimentos no bebê.

Tratamento: Com o antibiótico penicilina.

HPV

HPV é a sigla para papilomavírus humano, vírus sexualmente transmissível que pode causar sérios acometimentos, como o câncer de colo do útero.

Sintomas: Verrugas e lesões genitais, orais, perianais e até em locais menos comuns, como na laringe (algumas delas só podem ser detectadas pelo exame ginecológico). Em longo prazo, elas podem evoluir para câncer de colo do útero, ânus, vagina, vulva, pênis e orofaringe.

Formas de transmissão: A transmissão é por contato, ou seja, uma pessoa pode passar o vírus para outro apenas encostando na região ou na secreção infectada.

Tratamento: Na maioria dos casos, o próprio organismo elimina o vírus. Mas, às vezes, ele se multiplica, mantendo e piorando a infecção. Os motivos para isso ainda não são conhecidos, mas a hipótese mais aceita é uma deficiência imunológica da mulher. O tratamento mais comum é a cauterização da ferida para eliminar o vírus, mas pode chegar até à cirurgia excisional, em que se remove parte do colo do útero. Há também situações em que o vírus permanece no corpo de maneira latente, com a ferida indo e voltando. O tempo de latência, assim como a causa para o vírus persistir, é inexistente, mas acredita-se que dure até 15 anos.

HIV

Imunodeficiência Adquirida (Aids), cujas manifestações são diversas e sempre associadas a uma diminuição da defesa imunológica.

Sintomas: A infecção pelo vírus pode ser assintomática, mas, uma vez instalada a síndrome, infecções simples, que em outras circunstâncias não causariam grandes danos, podem se tornar graves.

Formas de transmissão: A transmissão se dá por relação sexual sem camisinha (vaginal, oral e anal), através de recebimento de sangue contaminado ou da mãe para o filho pela placenta ou pelo leito materno.

Tratamento: Não há ainda uma forma eficaz de eliminar o vírus – ele permanece para sempre no organismo, mas pode ser controlado através do uso de medicamentos antirretrovirais para que não se fortaleça, tornando-se Aids.

HTLV

Infecção causada por um retrovírus da família do HIV.

Sintomas: Na maioria dos casos, é assintomático. Em apenas 5% deles, está relacionado ao aparecimento de linfomas, leucemias e doenças neurológicas.

Formas de transmissão: A contaminação acontece pelo sexo oral, vaginal ou anal desprotegido e pelo contato com sangue contaminado.

Tratamento: O tratamento é direcionado às complicações quando elas ocorrem. A grande maioria dos casos não exige nenhum tratamento. No entanto, é importante detectar a presença do vírus – através de exames de sangue – para evitar a transmissão.

Hepatite B

É a inflamação no fígado causada por um vírus, que pode ser transmitido sexualmente.

Sintomas: A maioria dos casos é assintomática, mas, em casos raros, pode ocorrer falência aguda do fígado. Em cerca de 30% dos acometimentos a doença torna-se crônica, trazendo a possibilidade de cirrose ou câncer. Nos outros casos, o próprio organismo resolve o quadro. Alguns sintomas que podem aparecer são pele e olhos amarelados, cansaço, tontura, náuseas, vômito, dor abdominal e febre.

Formas de transmissão: A principal forma de transmissão é através das relações sexuais (oral, vaginal e anal) desprotegidas, mas qualquer contato com mucosas infectadas pode passar o vírus. A infecção pelo beijo ainda é incerta – acredita-se que há risco apenas se houver feridas na boca. Também pode ser passada de mãe para filho na gestação, parto ou amamentação, por transfusão de sangue ou por instrumentos contaminados.

Tratamento: O tratamento é feito quando o corpo não consegue eliminar sozinho e a doença se torna crônica. Além de amenizar os sintomas, ele tem como objetivo diminuir a multiplicação do vírus no corpo.

Tricomoníase

Infecção da vulva, vagina, uretra, colo uterino ou pênis causada pelo protozoário Trichomonas Vaginalis.

Sintomas: Causa corrimento esverdeado com odor desagradável, coceira, dor durante a relação sexual, irritação vulvar, vaginal e ardor e dificuldade ao urinar.

Formas de transmissão: Transmissão pelo sexo vaginal, oral ou anal sem preservativo.

Tratamento: O tratamento é feito com medicação antibiótica.

Doença inflamatória pélvica

Infecção bacteriana da pelve que pode acometer útero, trompas, ovários e chegar até a cavidade abdominal. As bactérias Neisseria Gonorrhoeae e Chlamydia Trachomatis são as principais causadoras.

Sintomas: Dor no baixo ventre, corrimento incomum, dor na relação sexual, febre, infertilidade, abcessos (cistos com acúmulo de pus) nas tubas e nos ovários, peritonite (inflamação no abdômen) aguda.

Formas de transmissão: Sexo vaginal, anal e oral sem preservativo.

Tratamento: Na maioria dos casos, o tratamento é feito com antibióticos e anti-inflamatórios. Em casos mais graves, pode ser necessária cirurgia para remover abscessos.

Donovanose

Também chamada de granuloma inguinal, é uma doença causada pela bactéria Klebsiella Granulomatis.

Sintomas: Causa úlceras genitais e nódulos subcutâneos.

Formas de transmissão: É transmitida pelo sexo oral, anal ou vaginal desprotegido e também pelo beijo.

Tratamento: Feito com antibióticos.

*Fontes consultadas

Gilberto Turcato Júnior, Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

Jurandir Passos, ginecologista e obstetra do Delboni Medicina Diagnóstica, em São Paulo.

José Eleutério Júnior, de Fortaleza (CE), ginecologista e obstetra presidente da Comissão Nacional Especializada de Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo.

Andrea Godoy Lopes Graça, ginecologista do Hospital Moriah, em São Paulo.

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